tag:blogger.com,1999:blog-303360082024-10-02T08:53:18.604+01:00consciência críticaespaço de opinião para o cidadão descontentepedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.comBlogger607125tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-77576647894969633802024-04-15T19:23:00.003+01:002024-04-15T19:23:55.967+01:00A nova composição da Assembleia da República: da novidade à responsabilização<p>O meu contributo para o programa 'Antena Aberta', do dia 26 de Março de 2024, na Antena 1, a partir <span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u x1yc453h" dir="auto">dos 17 minutos e 47 segundos, disponível <a href="https://www.rtp.pt/play/p469/e757531/antena-aberta">aqui</a>.<br /></span></p>pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-7335781652672437402024-01-22T13:19:00.003+00:002024-01-22T13:19:21.335+00:00Comunicação política em contexto pandémico<p>O meu contributo para o programa 'Antena Aberta', do dia 13 de Novembro de 2020, na Antena 1, a partir <span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u x1yc453h" dir="auto">dos 10 minutos e 30 segundos, disponível <a href="https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fwww.rtp.pt%2Fplay%2Fp469%2Fe505920%2Fantena-aberta%3Ffbclid%3DIwAR3WVsCEltz-tPeNynQCcQhcO93YAZVY3nve_YIMEvlR8j5_NHpc4lFlMbM&amp;h=AT0nmq-cMRXC5Fqe3B2W_2EGK8xka2QntXRh8FZYGJ1nKNxgO6KZoB5PQcynmfSPYl03mPfu_HT-BQrSkQTFmLbETRJXsdHOvKis1HXpp6maR2C99XhY8YbXZNFHvoLasr0MHTVBoSRv8xVHSg&amp;__tn__=H-R&amp;c[0]=AT1vmJwDWwb0KjvHCrcgpoKDnK6LyoGVIfoOEla3_NHpXF9MNSs1ZSkrT8_C760To47hpt6e1fXhKQdUV4GnwqKkrvgNNo3FL3RZnG5qJunHBnvyjQPfueEo1gn-Wq3olAExareMOHUBbT_M-kzZrr8mAcrHDkJ3nji8cKxGdRdyHWj_L26t6g" target="_blank">aqui</a>.<br /></span></p>pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-48454537555855316302024-01-22T13:16:00.005+00:002024-01-22T13:22:16.523+00:00Situação política e acordos pós-eleitorais em Portugal<p>O meu contributo para o programa 'Antena Aberta', do dia 21 de Dezembro de 2023, na Antena 1, a partir <span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u x1yc453h" dir="auto">dos 34 minutos e 44 segundos, disponível <a href="https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fwww.rtp.pt%2Fplay%2Fp469%2Fe736558%2Fantena-aberta%3Ffbclid%3DIwAR3vBvdhNC6Z7qIhDWrWw9OXmYVeGocstLJjwd5E_4zJSVvATIEAqPmhwaE&amp;h=AT1HamrDIcU5XrvezX3tECfLTYtxdsLkGw9vm1oC1ofw_7wz5IZWPnAQrXLjQvk4tkvWIbJ5jNShejul7_QLT4JNrncKNCywJfhNx04rf2g3ntdWal-j1xn6hnkVwhae79p7tvTQoqhj0yKQ2g&amp;__tn__=H-R&amp;c[0]=AT09dcswdH-0JDz_VbKpo1UoY09BjXtg5HuTxbwjJI_xrXH-fEjilhQGJsnTf_7RAMjcA3q9kJ6dv9CkmMaUko_ji25aAHmJvcwKElOEYkTOI-9_mVMWZhMFaXK9dgK_15ImjgQFzGaF346SCv2xMrOwELz3driSOGOlBpBihIdo72tkna1rQQ" target="_blank">aqui</a>.<br /></span></p>pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-71357894145352336012024-01-22T13:14:00.003+00:002024-01-22T13:14:23.560+00:00Expectativas e realidades da responsabilização política<p>O meu contributo para o programa 'Antena Aberta', do dia 24 de Maio de 2023, na Antena 1, a partir <span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u x1yc453h" dir="auto">dos 2 minutos e 2 segundos, disponível </span><a href="https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fwww.rtp.pt%2Fplay%2Fp469%2Fe694077%2Fantena-aberta%3Ffbclid%3DIwAR3uFtEONaUUHa-fGOJCTFVwB_ERj7ktUYwKcybX8LPa0WitkkcemmnP5D8&amp;h=AT1bthKDqx7B6uX_fz76cGX90_o1DKON_h7DpM6gbOpZBcY3i11DvmyGo0CJjnghjwtbilfzuAWc4FA2JJDNVc894kuQYoTQSDrBqDJ6B5eBdJoIIko3o4i5r6bYzMe4cd6xEc1nDg9Q-BBu2Q&amp;__tn__=-UK-R&amp;c[0]=AT2DawcyzcpZgJWC3DeR2GiTTDRgTEpIVxGeOGyADoKs7QpDUr7bW_nOgh8d69I4si9vQT6LjL9K3C_aMsAajMvMSoeSnDMT_Jd26r36rp4FC7l902mRb90ehuYqMEAf4XEfvOnZ09Z2R9ZmeXv9wv5LU8gHYZGs7KWOHctWSkBOGnbiUXgKzw" target="_blank">aqui</a>.<br /></p>pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-50060247912122968032024-01-22T13:04:00.003+00:002024-01-22T13:15:13.296+00:00A 'AD' em 2024: teatralização, desespero e memória<p>O meu contributo para o programa 'Antena Aberta', do dia 22 de Janeiro de 2024, na Antena 1, a partir de <span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u x1yc453h" dir="auto">dos 17 minutos e 24 segundos, </span>disponível <a href="https://www.rtp.pt/play/p469/e742859/antena-aberta?fbclid=IwAR13GY4rsSVK9s_TMbTecbLWXMABeYElFYWawyrtrnWHIT_MUwp8k3z5a5E" target="_blank">aqui</a>.<br /></p>pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-65811088471173562162021-01-24T23:16:00.001+00:002021-01-24T23:17:06.068+00:00Leituras políticas de uma eleição-reality-show<p style="text-align: left;"></p><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql rrkovp55 a8c37x1j keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v knj5qynh oo9gr5id hzawbc8m" dir="auto"><div class="kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">Leituras partidárias (legislativas ou autárquicas) de uma eleição que pouco mais é que um reality show (quantas pessoas conheciam as ideias de cada candidatura?...) são sempre abusivas e deslocadas. Se eleição se prestava a sebastianismos de protesto era esta; não surpreende, pois, que a(s) candidatura(s) eleita(s) pelos media e pelas mesas de café/casino (escolher o que não se aplica) tenha(m) colhido dessa escolha muito benefício - e é bom não esquecer que existiam DUAS candidaturas com essa natureza.</div></div></span><div style="text-align: left;"><div class=""><div class="ecm0bbzt hv4rvrfc e5nlhep0 dati1w0a" data-ad-comet-preview="message" data-ad-preview="message" id="jsc_c_18"><div class="j83agx80 cbu4d94t ew0dbk1b irj2b8pg"><div class="qzhwtbm6 knvmm38d"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql rrkovp55 a8c37x1j keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v knj5qynh oo9gr5id hzawbc8m" dir="auto"><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">&nbsp;</div><div dir="auto" style="text-align: start;">Sem prejuízo disto, fica parcialmente demonstrado o poder de mobilização de grupos mais pequenos e com mensagens que se reduzem, linguisticamente, a slogans: quanto mais pequeno o grupo, mais facilmente se mobiliza; quanto mais simplórias as suas 'soluções' para problemas complexos, quanto mais minimal e ofensiva a linguagem, mais uma parte crescentemente invisível da população vê nelas/es uma 'alternativa'.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;"><br />Também por isso, compreender o significado deste resultado passa ainda por conhecer (por exemplo) um pouco da História do desaparecimento das esquerdas europeias, designadamente em França e no Reino Unido. dada a insatisfação dos respectivos eleitorados perante a ausência (ou publicitação efectiva) frequente de resultados práticos da representação política que elas constituem.</div><div dir="auto" style="text-align: start;">&nbsp;</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">É também a consequência de décadas de governação ao centro e à direita, designados 'moderados', quando nada na sua acção constante de liberalização económica e consequente perda de poder real de compra e de segurança no trabalho pode ser considerada moderada - mais contribuindo para aumentar, nas franjas, a dimensão do eleitorado desprotegido.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">&nbsp;</div><div dir="auto" style="text-align: start;">A muito disto assistem desde os anos 70 as figuras políticas e os partidos de esquerda - historicamente mais apetrechadas/os e mais próximas/os das realidades desprotegidas - como a um acidente em movimento lento. Talvez fosse altura de aprenderem alguma coisa - de deixarem de disputar campeonatos de pureza conceptual e de compreenderem que não se é aceite como representante por pessoas a quem conhecemos mal, a quem não ouvimos com a frequência devida, ou cuja linguagem não sabemos tornar nossa com a humildade de quem quer servi-las.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">&nbsp;</div><div dir="auto" style="text-align: start;">Notas finais:</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">&nbsp;</div><div dir="auto" style="text-align: start;">- sem surpresa (tivemos só TRÊS eleições nos últimos anos a demonstrá-lo), as sondagens sobrestimaram a honestidade de quem inquirem, esquecendo que o voto nas ofertas políticas mais extremadas raramente é assumido, em toda a sua dimensão, nos inquéritos;</div><div dir="auto" style="text-align: start;">&nbsp;</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">- mais de quatrocentas mil pessoas em Portugal acreditam que viveriam bem com o corte de fitas e o carimbo de papéis (a pouco mais se resumem os poderes efectivos da Presidência) se praticado por alguém que afirmou, com todas as letras, não querer desempenhar o cargo à luz da Constituição nem em defesa de todas as pessoas que ela protege. Fica por saber se muitas dessas quatrocentas mil pessoas abdicariam tão rapidamente da mesma Constituição se soubessem o tudo de que abdicariam, e se têm real consciência de que não teriam 'bilhete' para continuar no 'carrossel' da cidadania caso a candidatura que apoiaram vencesse;</div><div dir="auto" style="text-align: start;">&nbsp;</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q"><div dir="auto" style="text-align: start;">- cada candidatura verá nos seus resultados uma vitória - em boa verdade nem era necessária a eleição: a propensão para a auto-gratificação só ombreia, como desporto, com o futebol. Mas o caneco desse campeonato tem de caber, ex-aequo, ao lider da juventude centrista (quando afirma o 'sucesso' da opção de apoiar MRS pois 'não fragmentou a direita', como se surgisse sequer no mapa caso tivesse apresentado candidatura própria) e à IL (que falou de uma 'onda liberal', quando há insectos a mover mais a água da chuva nas fissuras da estrada).</div><div dir="auto" style="text-align: start;">&nbsp;</div><div style="text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi91X1SSQFR-Yl1A-BZhQQlzu6cr3Udy_5U-_P0EjJD1xTcEJLRrPmp92ICchuF3Pwoh79TCSQeec1_-DN9BbgEy8Vl2khqLCPe6bWjKocscDqU2n9J96Aumj-rV7koQSK5aPb0/s2508/2020-YearinReview-BestTV.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1254" data-original-width="2508" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi91X1SSQFR-Yl1A-BZhQQlzu6cr3Udy_5U-_P0EjJD1xTcEJLRrPmp92ICchuF3Pwoh79TCSQeec1_-DN9BbgEy8Vl2khqLCPe6bWjKocscDqU2n9J96Aumj-rV7koQSK5aPb0/s320/2020-YearinReview-BestTV.gif" width="320" /></a></div><br />&nbsp;</div></div></span></div></div></div></div></div>pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-24173605575045555352018-05-14T11:23:00.001+01:002021-01-12T12:02:55.305+00:00Do futuro fogo-de-artifício<div style="text-align: justify;"> De modo semelhante ao de civilizações anteriores, também aquela pastiche a que podemos chamar livremente 'ocidental' caminha de forma alegre e auto-satisfeita a ladeira 'experiencial' da própria decadência.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Não falamos já de Inglehart ou Maslow, mas daquela atitude meta-jamesdeaneana de quem vê apenas direitos próprios, e de quem aguarda que o mundo se movimente em redor do seu descapotável, minimizando em absoluto o esforço necessário à satisfação do seu hedonismo.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Que seja a<span class="text_exposed_show"> civilização mais desligada do seu espaço a considerar-se em condições morais de instruir as restantes - seria hilariante se não fosse a causa futura do desaparecimento da espécie. Quem professa a insensibilidade tem pouco a ensinar sobre sentidos.</span></div> <div class="text_exposed_show" style="text-align: justify;"> <br /> Como nos casos anteriores, isto acaba mal. Pode ser que dê fogo-de-artifício.</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-24828206716859060842018-02-27T12:10:00.000+00:002018-02-27T12:10:18.563+00:00Uma ilegalidade 'normal'Há condutas para as quais as palavras serão sempre insuficientes. O subterfúgio (chamemos-lhe) 'legalista', habitualmente convocado como argumento de desresponsabilização moral, torna-se particularmente intolerável quando utilizado no âmbito de um serviço público, mesmo quando concessionado a uma entidade terceira. Foi este, mais uma vez, o caso da RTP e o seu envolvimento na realização de um evento de entretenimento, no caso específico, um festival europeu de canções.<br /> <br /> Que o novo 'normal' em <i>empreendedorês</i> é convencer outrém da irrelevância do seu trabalho e do valor económico e financeiro por ele gerado, já sabíamos. Que a mais descarada exploração laboral faz parte da novilíngua empresarial na qual são continuamente doutrinadas/os jovens, também já sabíamos. Que aparentemente é <i>inovador</i> não pagar por trabalho com o qual uma empresa gera rendimento, nas suas mais variadas formas, também já sabíamos. Que a gestão da RTP foge cada vez mais ao espírito de um Serviço Público por cujo cumprimento continua inexplicavelmente a ser responsável, também sabíamos. Que a gestão da RTP é cada vez mais praticada por quem compreende tanto o significado da expressão <i>Público</i> como os humores de buracos negros, também já sabíamos. Agora, que a naturalidade com que todas estas práticas são não apenas colocadas em marcha, mas defendidas com a leviandade de quem nem compreende como pode pensar-se forma diferente - isso, sim, é particularmente chocante.<br /> <br /> Ora para este evento acolhido pela RTP são então pedidos não apenas a dedicação e o tempo, mas também recursos materiais privados de aproximadamente 400 jovens, não sendo dificil quantificar quanto poupa a RTP nessa utilização. Compreende-se que o lençol orçamental possa, canalizado para custear os egos e qualidade de vida de algumas figuras públicas )cuja real relevância de contributo esteja por qualificar devidamente) seja insuficiente para financiar meios próprios: mas é particularmente obsceno esperar que sejam jovens - os mesmos que segundo estudo após estudo se conclui possuirem cronicamente recursos insuficientes para a condução das suas vidas - a transportar, perigar e valorizar meios de valor muito elevado para um evento com o qual a empresa não pára de promover-se assim gratuitamente.<br /> <br /> Nada disto parece incomodar a consciência, sentido de ridículo ou de vergonha da empresa, cristalizada na figura da sua directora de marketing e comunicação. Para além da obvia questão "estaria disposta a cumprir os desiderados do seu cargo nas mesmas condições agora oferecidas a estas/es jovens?" que fica por responder (mas cuja resposta se adivinha), afirma esta quadro que estas/es jovens - cerca de 400 - trabalharão (leia-se "ajudam a gerar valor para a marca e para a empresa") com 700 elementos do staff, sendo estes últimos remunerados, e nunca conduzirão as suas funções sozinhos. Daqui decorre que 36% desta força de trabalho efectivamente trabalha sem a devida remuneração, permitindo poupar à empresa custos significativos e em franca ilegalidade à luz do enquadramento jurídico do voluntariado (a lei 71/98 de 3/11/98).<br /> <br /> Como justifica esta quadro da RTP o recurso abjecto ao que constitui efectivamente trabalho ilegal? Com o mais incapaz e infantil argumento convocável: porque outros o fazem também. De acordo com as suas próprias palavras, a 'oportunidade' de trabalhar ilegalmente no maior evento musical do mundo (o que é factualmente falso, diga-se) “é um padrão que se repete anualmente” que “faz parte do modelo" do Eurovision Song Contest da EBU, seguido “noutros grandes eventos internacionais [...] em qualquer país do mundo”. Portanto, soma-se a ilegalidade à desresponsabilização pura de seguir práticas de terceiros desde que sejam convenientes.<br /> <br /> Consequência deste 'modelo'? Aparentemente, que as/os jovens a que se exige não apenas&nbsp; “material necessário para cumprir a função”, “experiência em fotografia, filmagem e edição de vídeo” e “domínio da língua alemã" - características profissionais com valor de mercado que a RTP prefere ignorar - custeiem as suas vidas, a sua residência, a manutenção ela própria do material utilizado ou do seguro contra riscos a que será submetido com "uma experiência única", com "experiências profissionais e contactos, a nível internacional, normalmente muito apelativos para quem quer enriquecer o currículo”. Fica por demonstrar se estas 'experiências' são aceites como meio de pagamento em hipermercados, franchises de <i>fastfood </i>ou instituições de crédito à habitação - aquelas preocupações que uma directora de marketing e comunicação provavelmente não tem, uma vez que a sua 'experiência' requer remuneração, à semelhança do que ocorre com os restantes 64% do <i>staff</i>.pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-20964568322907314992018-01-28T22:19:00.000+00:002018-01-28T22:22:31.855+00:00O mal menor<div data-contents="true"> <div class="" data-block="true" data-editor="e13fo" data-offset-key="2peus-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2peus-0-0"> <span data-offset-key="2peus-0-0"><span data-text="true">Uma forma de racionalização, domesticação e e intervenção sobre o mundo, com raízes em processos iniciados há séculos, encontra hoje tradução no modo como pensamos e organizamos as actividades economicas e profissionais, em particular as que se encontram (cada vez mais) reféns da gestão.</span></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="e13fo" data-offset-key="4spfr-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4spfr-0-0"> <span data-offset-key="4spfr-0-0"><br data-text="true" /></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="e13fo" data-offset-key="7k05g-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="7k05g-0-0"> <span data-offset-key="7k05g-0-0"><span data-text="true">Esta, entre a complexificação desnecessaria e rídicula e a arrogância de quem considera tudo beneficiar como se dos próprios dedos de Midas se tratasse, o que toca, estraga, na medida em que submete a um mesmo conjunto de mecanismos o que muitas vezes não podia ser mais diverso, deitando a perder o que antes era único em função de uma natureza pretensamente universal dos seus problemas e soluções.</span></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="e13fo" data-offset-key="902of-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="902of-0-0"> <span data-offset-key="902of-0-0"><br data-text="true" /></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="e13fo" data-offset-key="7esjr-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="7esjr-0-0"> <span data-offset-key="7esjr-0-0"><span data-text="true">Beneficiando de uma entropia, desvalorização ou mesmo ignorância pelas quais é muitas vezes a principal responsável, este conjunto de técnicas auto-proclamadas ciência preda a fragilidade humana como um vírus que, depois de contribuir para eliminar as resistências, vende a si própria como infalível na resolução de tudo, desde que esse tudo tenha já sido - ou possa em curto espaço de tempo ser transformado em - redutível aos seus termos, modelos e conceitos.</span></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="e13fo" data-offset-key="da87g-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="da87g-0-0"> <span data-offset-key="da87g-0-0"><br data-text="true" /></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="e13fo" data-offset-key="3619l-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3619l-0-0"> <span data-offset-key="3619l-0-0"><span data-text="true">Assistimos a tudo isto como se não adivinhassemos como termina. Não será diferente de todas as megalomanias, predestinações ou seitas anteriores: um dia concordaremos que se tolerou inexplicavelmente durante demasiado tempo. Mas até que os gurus do presente apontem esse caminho, substituindo-o por um simulacro controlável de alternativa, banhar-nos-emos placidamente na ilusão de que tudo é o melhor possível ou, na sua impossibilidade, o mal menor entre as restantes possibilidades previamente privadas de qualidades, esquecendo que um mal menor não continua apenas a ser uma opção errada: é também aquela que menoriza quem nela se revê e a ela se reduz.</span></span></div> </div> </div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-53669733590642305312017-10-28T20:02:00.002+01:002017-10-28T20:07:15.432+01:00Chá, biscoitos e a maçada dos direitos de outrém<div style="text-align: justify;"> Tema mobilizador que constitui, a expressão de opinião política é frequentemente acompanhada de reacções de natureza muito diversa, das mais apaixonadas às mais reflectidas, das mais sérias às mais jocosas. Tendo muito já sido dito sobre os eventos ocorridos nos últimos dias na Catalunha, há alguns argumentos de honestidade intelectual duvidosa que devem ser desmontados, de forma a contribuir para despoluir o debate de tudo aquilo que a ele não oferece conhecimento crítico.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Uma das afirmações mais frequentes ilustra o que poderíamos designar de trincheira entre a dimensão política e a dimensão jurídica da acção colectiva. Com maior incidência em declarações de pessoas com formação mais próxima do Direito, é afirmada uma ilegitimidade da declaração de independência catalã baseada em dois princípios: 1) que não é legal; e 2) que não corresponde a uma manifestação da vontade maioritária da população. Detenhamo-nos um pouco sobre estes dois tópicos.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Relativamente a 1), o argumento assume uma natureza formalista, ou seja, que a independência tem necessariamente de ser autorizada pela instância face à qual é declarada. É uma ideia extraordinariamente perigosa, na medida em que pressupõe que essa independência diz mais respeito àquelas/es de quem queremos afastar-nos do que a nós, que o pretendemos. Na sua essência, significa que os benefícios e direitos procurados/exercidos por um afastamento têm de ser <i>permitidos</i>.<br /> <br /> Aplicar este mesmo princípio a diversos outros campos rapidamente ilustraria o quão pouco razoável tal interpretação formalista se constitui. Em simultâneo podemos perguntar-nos quantas declarações de independência foram, na realidade, <i>autorizadas</i> ou <i>permitidas</i>, e de quão ridículo é colocar-nos hoje sequer essa questão face a esses países entretanto reconhecidos no seu pleno direito.<br /> <br /> Já quanto a 2) é nada menos que extraordinário que se permita beneficiar quem sabotou a realização de um referendo com todas as suas condições do argumento de que o referendo realizado... não contou com todas as suas condições. Não é aceitável que sabotemos um procedimento e depois censuremos o procedimento pela consequência de ter sido sabotado.<br /> <br /> Mas mesmo que tal fizesse qualquer sentido no plano ético, a verdade é que não apenas a votação foi expressiva - não deixando por isso grande dúvida sobre o sentido de voto da população que entendeu manifestar-se - como qualquer cálculo simplifica a questão na exacta medida em que revela o quão residual poderia o resultado em torno do 'sim' ser caso a restante população se houvesse, na realidade, manifestado.<br /> <br /> Além disso, deve ainda ser recordado que não é habitual usar como argumento de invalidação de uma votação o facto de muitas pessoas - por razões pessoais atendíveis e no exercício dos seus direitos - optarem por não votar - sobretudo quando, neste caso, a isso podem também ter sido coagidas pela sabotagem praticada pelo Governo de Madrid. Se a abstenção pudesse ser usada para inutilizar um acto eleitoral, nem o próprio Mariano Rajoy estaria onde está hoje, e sabemos perfeitamente por que razão - e por que desistência entre a oposição - ocupa o seu lugar. Mas podemos sempre sugerir a Rajoy que sabote Rajoy: é, provavelmente, das únicas coisas que o PP não tentou ainda.<br /> <br /> Um dos outros argumentos cuja recorrência contribui sobretudo para vexar quem dele se serve diz respeito à avaliação do impacto da conduta de terceiras/os, no exercício dos seus direitos, sobre a nossa vida. Qualificar tal atitude como egoísta é o mínimo absoluto que pode dizer-se perante ela: é necessário um tipo muito especial de egocentrismo e de submissão dos exercícios de outrém à nossa conveniência para fazer desse prisma uma opção, quanto mais uma opinião efectivamente manifestada. Não deveria ser necessário recordar que os direitos de outrém não existem para benefício da nossa vida, mas da sua. Não deveria, mas aparentemente é. Portanto, é extraordinariamente infeliz que um referendo sobre a autodeterminação de uma região, de uma cultura, e de uma História rica e longa pareça maçar o chá e biscoitos da nossa condição.<br /> <br /> A própria incoerência da argumentação atinge mínimos olímpicos quando é praticada por países e regiões cuja História, da mais recente à mais antiga, é feita precisamente da afirmação do livre-arbítrio e auto-determinação. Assistir a declarações censórias deste processo por parte de representantes políticos de ex-colónias libertadas como os EUA está para lá do que o decoro ético e literacia moral deveria permitir. Nos seus próprios termos, que países como o Reino Unido, em processos de secessão de instituições supra-nacionais sob o lema da especificidade da sua História, censurem o processo catalão não é apenas ridículo mas sintoma de uma grave patologia política <br /> <br /> A História da Catalunha é longa. A legitimidade dos seus anseios de auto-determinação é igualmente longa e está acima de qualquer uma das argumentações profundamente insultuosas que contra si têm sido levantadas. Mas mesmo que nenhuma das anteriores se verificasse, a verdade é que o tipo de oposição que tem sido movida e a argumentação usada contra o exercício delas é de tal forma pobre que o difícil é encontrar razões para deixar de celebrar o exercício de arbítrio que constituiu, por menos livre que tenham tentado torná-lo. Como em diversos outros casos, é apenas uma questão de tempo até que lhe seja reconhecido o que é seu por direito histórico, cívico e ético.</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-82863121379444183232017-10-28T19:31:00.001+01:002017-10-28T19:31:22.905+01:00um conveniente exercício de exploração<div style="text-align: justify;"> Devemos pronunciar-nos sobre ideias. Sobre princípios. Dar conta da forma como vemos o mundo. As palavras são um dos princípios veículos não apenas de exposição das nossas ideias e princípios, mas um retrato da pessoa que as profere. Entre muitas outras razões e argumentos, é por isso que ler e interpretar continua hoje tão importante como no passado e, espera-se, no futuro. Este post é, então, sobre as ideias inscritas numa ideologia, sobre os princípios encerrados nela e que as palavras libertam - num caso em particular, em todo o nojo que deveríamos ter perante elas.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Há uma empresa em Portugal, entre diversas outras, a tentar semear para mais tarde colher. Uma empresa dirigida por alguém que, para essa colheita, toma decisões. Estas decisões obedecem a visões específicas do mundo, a ideias, a uma ideologia a que elas dizem respeito e que lhes dá sentido.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> A primeira dessas decisões é o nome: <i>padaria <b>portuguesa</b></i>. A sugestão da nacionalidade, a dictização, não é inocente: aponta em simultâneo - não sei se intencionalmente - para uma localização tornada descritivo de autenticidade, mas também para um certo sentimento de adesão a um passado, a uma herança, que pode ser tão inconscientemente patriótico como conscientemente nacionalista no pior dos sentidos.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> A segunda diz respeito à forma como define ou qualifica o processo que dá origem aos produtos que comercializa, e mais especificamente as pessoas que tomam parte desse processo. De acordo com a auto-definição partilhada no seu próprio <i>site</i>, esta empresa não tem <i>trabalhadores</i>, mas antes <i>colaboradores</i>. Poderíamos perguntar, nesse caso, se alguém efectivamente <i>trabalha</i>, ou se na realidade os produtos são projecções mentais da imaginação de quem a dirige, pois sem <i>trabalho</i> não há <i>produção</i>. <i>Colabora-se</i>, portanto, nesta empresa: participa-se de algo, de um esforço, mas aparentemente esse esforço não <i>dá trabalho</i> pois que para tal seria necessário ter... <i>trabalhadores</i>.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> É também muito curiosa a forma como o plural aqui é, como infeliz e habitualmente, supressor da diversidade de género: não apenas não existem <i>trabalhadores </i>mas aparentemente apenas existem <i>colaboradores</i> sem que se reconheça existir qualquer <i>colaboradora</i>. Parece um preciosismo mas não é: na realidade, é apenas a reprodução de uma forma histórica de invisibilidade e subalternização de todo um género - na prática, de todos os que não sejam aquele ao qual a diversidade é esmagada. </div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Terceira decisão, quem a dirige revelou em mais do que uma circunstância - sem beneficiar, portanto, da defesa do lapso circunstancial - ser defensor de / ter como objectivo criar “medidas estruturais e não temporárias” como a “flexibilização da contratação, do despedimento, do horário extra de trabalho”, pois entre outras realidades que subscreve considera ser benéfico ter na empresa "um espírito de equipa que vale muito mais do que a remuneração base", além de um arraial de verão uma vez por ano, uma reunião mensal disfarçada de piquenique e um creme, um babygrow e um postal de aniversário personalizado aquando do nascimento de uma criança.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Seria simples censurar a pessoa que defende estas ideias. Mas o importante aqui não é censurar esta pessoa em particular.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> O importante é ver nela, nas afirmações que faz e nas ideias que defende um sintoma: o de um tempo em que impera uma forma de redução da dignidade de uma pessoa, da devida valorização do seu contributo para o desenvolvimento de uma empresa, do seu contributo para a riqueza que ela gera e sem o qual tal riqueza não existiria, à condição de colaboração remunerada em espírito, creme, postal e arraial.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> O importante é ver nestas declarações, que poderiam (e tristemente são, com demasiada frequência) ser de outra pessoa, o que contamina aos poucos as relações entre outras elas: a ideologia da hábil desconstrução discursiva do valor de cada pessoa através da desvalorização do que faz e do que permite a outras pessoas fazendo-o.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Cada vez mais, nos temas aparentemente menos relevantes, vemos brotar este discurso, esta naturalização da desumanidade e da filha-de-putice, como se mera técnica de gestão racional e inevitável se tratasse. Não o é: ensinamo-la como tal nas universidades, promovemo-la nos comentários de especialistas nos meios de comunicação social, mas é de ideologia que se trata, ou seja, de um filtro que nada tem de inevitável ou de neutro. E é a essa ideologia que temos de opor-nos, todos os dias, denunciando-a pelo que é: um conveniente exercício de exploração.</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-44690202555341828372017-10-20T13:50:00.005+01:002017-10-20T13:51:05.616+01:00O passado presente<div class="_5pbx userContent _22jv _3576" data-ft="{&quot;tn&quot;:&quot;K&quot;}" id="js_2po" style="text-align: justify;"> Um dos prazeres de orientar o trabalho científico de outrém é descobrir através dele e do esforço que encerra trabalhos outros, cuja utilidade para o nosso presente nunca deixa de surpreender. Atente-se na posição de Fialho de Almeida, em 1904, sobre os jornais vendidos no século XIX:<br /> <br /> “<i>Os jornaes que se sustentam, teem todos um intuito qualquer d’ordem secreta; á parte este ou aquelle, quasi todos foram fundados para a aerostação politica d’um nome, para a defesa d’um syndicato, ou para fazer ganhar dinheiro a um imbecil</i>".</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-52815173619095044112017-10-20T13:50:00.000+01:002017-10-20T13:50:26.247+01:00História e maturidade<div style="text-align: justify;"> Celebrar candidaturas "independentes" de dissidentes ou militantes desavindos de PS, PSD e CDS e considera-las uma manifestação de suposta maturidade democrática da sociedade civil requer um grau superlativo de alheamento, imaturidade analítica e uma disponibilidade para acreditar em pais natal que, 40 anos depois, deveria deprimir cada uma e cada um.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Coisas boas de leccionar sobre História do pensamento político: compreender o presente a luz do passado. Coisas menos boas de leccionar sobre História do pensamento político: vê-la repetir-se pela mão de pessoas que parecem te-la tomado como manual, sem o saberem sequer. </div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Complicado, defender a Civilização contra a violência da ignorância e da presunção quando ela, a Civilização, não foi apenas fundada mas se mantém alicerçada em exercício não muito diferente de outro tipo de violência ignorante e presunçosa.</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-29164731423436310232017-10-20T13:47:00.000+01:002017-10-20T13:47:30.248+01:00O fruto artístico da violência<div style="text-align: justify;"> Ironia triste e perturbadora, esta, de constatar que admiramos como adultas e adultos o talento das crianças e jovens que esmagámos enquanto tacteavam cegas o seu lugar no mundo, pressionando até à condição de diamante o que nelas não pode nessa altura sair e revelar-se. Confortamo-nos, depois, na materialidade dessa riqueza, da arte dessas outras e outros, incapazes que somos de reconhecer que aquele pedaço de beleza cujo valor cobiçamos hoje é o fruto da violência de ontem <span class="text_exposed_show">em toda a sua penosa fragilidade. Não surpreende que algumas e alguns não sobrevivam ao legado que sobre elas e eles impusemos: surpreende, sim, que tenham tido a resiliência de tolerá-lo durante tanto tempo, e a generosidade de deixar no mesmo mundo que tão mal as/os acolheu tudo aquilo que, paradoxalmente, exaltamos depois como excelencia humana.</span></div> <div class="text_exposed_show" style="text-align: justify;"> <br /> Aprendemos nada com o passado: somos a/o Sísifo voluntária/o e convicta/o da incapacidade absoluta.</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-689062175457535902017-10-20T13:46:00.000+01:002017-10-20T13:46:24.755+01:00A redundância da HumanidadeCada vez menor, o estímulo para dizer, para escrever, para debater. Aprendemos nada com a História. Repetimos erros, argumentos. Somos cada vez mais distraídas e distraídos pelo acessório, pelo ruidoso, pelo espectacular. A principal característica da nossa espécie é a redundância. De que serve dizer, recordar? Se não vence pelo ruído, pelo efeito especial, pelo ódio, pela substituição conveniente da racionalidade pela convicção, interessa pouco, interessa nada. Desejar boa sorte não é um acto de generosidade: é um exercício de sarcasmo. Sabemos o que se segue, e como termina: basta ler sobre o passado. pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-2351757009628549662017-10-20T13:44:00.007+01:002017-10-20T13:45:03.145+01:00A surpresa que não surpreende<div style="text-align: justify;"> Há alguns meses atrás, debatendo a evolução dos resultados eleitorais em Almada, era já possível chamar-se a atenção para a tendência que se desenhava desde há anos neste concelho: a da redução substantiva e contínua da votação no PCP, através da sua coligação.As respostas a essa constatação provenientes de algumas das pessoas afectas ou mesmo militantes desta força partidária variavam entre a ironia, o sarcasmo, chegando à crítica de natureza pessoal e ao mais baixo insulto.&nbsp;</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Aparentemente, constatar um facto indesmentível – o afastamento progressivo do eleitorado face ao PCP numa das suas regiões tradicionalmente mais leais – não era aceitável, pelo que não podia ser sequer afirmado, como se as evidências desaparecessem por não pensarmos nelas (espécie de efeito Beetlejuice invertido).</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Os resultados das últimas eleições confirmam essa tendência, e só quem não acompanha a realidade pode realmente estar surpreso/a: depois de um percurso de tendencial subida entre 1976 e 1993, os últimos 20 anos são de sustentada queda da votação da coligação liderada pelo PCP, quer em termos percentuais (45.9% para 30.9%, ou seja, de aproximadamente um terço), quer em termos nominais (de pouco mais de 36000 votos para pouco mais de 20000, ou seja, mais de um terço). São vinte anos de erosão de uma base eleitoral, com raízes demasiado complexas para poderem ser abordadas sem profundidade, mas a existência dessa erosão constitui um facto que não vale a pena negar, mas antes – sugiro – reconhecer para depois abordar e compreender.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> A autarquia de Almada passa agora para o PS, e ao PCP tem de restar outra conduta que não a afirmada por Jerónimo de Sousa, para quem ora o eleitorado irá, na prática, arrepender-se da escolha, ora as populações serão prejudicadas pelo resultado da eleição como se houvessem sido apenas figurantes-vítima do processo e não os agentes do exercício de um direito que o PCP valoriza quando lhe é favorável mas vilipendia quando lhe é desfavorável. Não pode ser esta última, a solução. Julgar o eleitorado soberano e racional quando escolhe o PCP mas irresponsável quando rejeita renovar o seu mandato é uma forma de arrogância que se paga cara, e para a qual as/os almadenses parecem ter perdido em definitivo a paciência.</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-44116443427634034442017-10-20T13:43:00.003+01:002017-10-20T13:43:45.685+01:00Substância e forma<div style="text-align: justify;"> O Jornalismo praticado em Portugal é, de uma forma genérica, de má qualidade: copia mais do que investiga, presume onde devia fundamentar, insinua de modo boçal onde devia distinguir-se&nbsp; da conversa de café. Em termos da sua substância, contribui pouco para esclarecer, servindo sobretudo para reforçar o senso comum e o preconceito, emprestandos-lhe uma aura de legitimidade decorrente do estatuto que o meio, contra toda a evidência ou justificação, continua a possuir e a explorar.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Contudo, não é apenas pobre e conivente ao nível da substância: é confrangedor ao nível da forma, sobretudo na sua dimensão oral. Sempre que as circunstâncias impõem fugir do texto previamente escrito, quando que se revela necessário referir termos ou designações em língua estrangeira, sobressai a bolha de surdez voluntária em que vive a classe. Mais que escrever mal, quem pratica a profissão não sabe ouvir. Bastaria, em vez de copiar o texto de outros media, apreender a proferir as palavras escutadas, para não reforçar a impressão já existente ao nível da deontologia de que a formação superior e profissional da classe serviu apenas para aceder ao lugar, e não para preparar o exercício deste.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Uma das anteriores riquezas associadas à classe decorria da condição de quem a integrava: o capital simbólico e humano para lá das palavras, tornando a leitura ou audição do seu trabalho uma experiência de crescimento individual, de acréscimo de conhecimento, de alargamento do horizonte de quem lia e ouvia. Hoje, miseravelmente, não existe diferença assinalável entre as limitações literáticas e discursivas de quem escreve ou profere e a de quem lê ou escuta: a possibilidade real de aprendizagem parece remota, uma miragem em todo um deserto de ignorância partilhada e confortável, em que ao desinteresse de quem recebe a mensagem corresponde cada vez mais uma orgulhosa e militante inépcia de quem a emite.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Os problemas nas redacções são conhecidos; os desafios colocados pela transformação dos modelos de negócio, pela aceleração dos instrumentos de transmissão, e pelo ecossistema que contribuem para redesenhar não o são menos. Mas somar a problemas que em parte nos ultrapassam aqueles que ajudamos a alimentar com défices de investimento no brio – a tal dificilmente pode continuar a corresponder qualquer orgulho no desempenho de uma missão tão mais importante quanto maior a dimensão dos desafios que enfrenta. A carteira não pode continuar a ser considerada mera autorização para a execução: tem de voltar a constituir um privilégio conquistado com mérito cuja justificação seja tão frequente como a sua utilização. E isto envolve obrigatoriamente o respeito pela dupla dimensão do trabalho e da missão jornalística: a qualidade da sua substância; um não menor cuidado com a sua forma.</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-92122960376578794152017-10-20T13:42:00.001+01:002017-10-20T13:42:37.174+01:00A ética da serpente<div style="text-align: justify;"> A recente suspensão, que se prevê definitiva, da Procuradora-Geral venezuelana constitui, na sua natureza, no seu método e na sua intenção, um momento de esclarecimento histórico. Esta suspensão, decidida por um órgão de legitimidade democrática duvidosa e amplamente questionada, permite colocar algumas questões sobre o presente e o provável futuro político e cívico do país, revelando, para quem não o intuía ainda, o projecto de poder pela qual Nicolás Maduro se apresenta como líder.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Em <span class="jaw-highlight">primeiro lugar</span>, algumas considerações sobre a natureza do processo. A Procuradora-Geral agora suspensa havia sido indigitada no auge da populidade e legitimidade do chamado ‘Chavismo’, um movimento político de contornos ele próprio particularmente curiosos, colagem conveniente de um saudosismo legítimo com a adesão à figura do <em>militar </em>como arauto de salvação. Essa indigitação correspondia, pois, às intenções da figura mitificada e do sistema político que tinha em mente, e que a população sufragou e mandatou com sucesso, logo, uma das materializações desse sistema político, sem prejuízo – aparente – da separação de poderes que deveria configurar.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Em <span class="jaw-highlight">segundo lugar</span>, ao nível do método, esta suspensão constituiu uma das primeiras decisões tomadas por uma designada Assembleia ‘Constituinte’, ela própria resultado de uma decisão política estratégica de Maduro num contexto de guerra aberta entre órgãos de soberania. Ao contrário do que havia sucedido anteriormente com Chávez, neste caso não existiu qualquer investimento na legitimação prévia desse acto ‘eleitoral’, tanto mais necessária quando o contexto de incompatibilidade entre órgãos de soberania se encontrava no seu ponto crítico.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> A convocação do acto, a mecânica da constituição dos corpos de representação a eleger (amplamente favoráveis a sectores próximos da actual liderança política), as dúvidas lançadas sobre a transparência do processo de votação e contagem (pela mesma empresa que anteriormente havia a assegurado em processos eleitorais envolvendo Cháves e Maduro, e à qual nenhuma suspeita de natureza ética fora antes apontada), e a suspensão de uma Procuradora-Geral na iminência de analisar todo o processo eleitoral e eventuais crimes cometidos no seu decurso – tudo contribuiu para que a ‘eleição’ desta Assembleia ‘Constituinte’ constitua uma resposta acossada, conveniente e contingente, e não o fruto de um natural processo de amadurecimento de uma solução política apoiada pela maioria da população.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Acontece que estes métodos são conhecidos, e definem um tipo de liderança avesso a circunstâncias politicamente desfavoráveis, tipicamente lançando mão de quaisquer instrumentos com a aparência de legitimidade, mas procurando assegurar sobretudo a apropriação absoluta do poder, e a eternização do seu exercício exclusivo. A forma como se instrumentaliza agora uma Assembleia ‘Constituinte’, a somar à anterior instrumentalização do Supremo Tribunal na usurpação e concentração tentada do poder legislativo no detentor do poder executivo, revelam precisamente uma deriva autoritária que só em anteriores delírios de poder de tendência fascizante encontram paralelo.</div> <br /> <div style="text-align: justify;"> É, aliás, extremamente curiosa a dualidade de critérios encontrada na argumentação de quem defende as acções de Maduro, levando a concluir duas coisas: <span style="color: red;">1)</span> não há métodos errados, apenas agentes errados na aplicação desses métodos, censuráveis nas mãos de quem discordamos mas perfeitamente compreensíveis em quem apoiamos; <span style="color: red;">2)</span> a nacionalidade enquanto valorização do indivíduo varia na exacta medida da sua proximidade a Maduro, sendo tanto mais lamentada a morte e afirmada a ascendência ‘bolivariana’ quanto mais próximo do líder se encontra, e tanto mais justificados os métodos e celebrada a morte quanto mais distante dessa liderança.</div> <br /> <div style="text-align: justify;"> Em <span class="jaw-highlight">terceiro lugar</span>, da mesma forma que um <em>doppler </em>avalia a natureza do movimento de um corpo celeste através da análise da influência que gera sobre o que o rodeia, também as acções de Maduro e dos interesses que representa são caracterizáveis pelos efeitos produzidos. Neste plano, tem de ser qualificada pelo que pratica, pelo que limita, pelo que condiciona e cerceia, e finalmente pelo que desvirtua de um Estado de Direito democrático uma liderança política que cauciona, decide ou contribui conscientemente:</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <ul style="text-align: justify;"> <li>para o desaparecimento de meios de comunicação social politicamente não alinhados com a mundivisão do líder;</li> <li>para o desaparecimento da Constituição vigente – deitando por terra a herança Chavista cuja afirmação tantas vezes fora tão conveniente como estratégia de legitimação;</li> <li>para a substituição de um órgão de soberania (a Assembleia Nacional) tantas vezes elogiado até ao momento em que o seu controlo político foi perdido;</li> <li>pela utilização repressiva de força militar letal para condicionar o mesmo exercício de protesto anteriormente exaltado mas agora desconsiderado em função da mudança da posição crítica dos protestantes;</li> <li>pela detenção, humilhação ou suspensão arbitrárias dos direitos de vozes politicamente dissonantes;</li> <li>pelo recurso sistemático à convocação discursiva de uma ameaça externa como justificação para muito do que, de outra forma, seria considerado uma evidência de autoritarismo e condicionamento de direitos políticos e liberdades individuais.</li> </ul> <div style="text-align: justify;"> E assim sendo, a defesa feita desta conduta pelo próprio e por quem o apoia, interna e internacionalmente, constitui um dos momentos mais vergonhosos da História recente, sobretudo por se afigurar uma repetição de erros cometidos no passado mas para cuja presença na memória colectiva não parece existir suficiente investimento presente ou, pior, carácter. Choca, em particular, que tantas e tantos prefiram subscrever a tese da defesa contra uma suposta invasão estrangeira quando o principal perigo para os seus ideais comanda já os seus destinos, decidindo já por todas e todos, e aprestando-se para fazê-lo mais ainda.</div> <br /> <div style="text-align: justify;"> Quem opta, por necessidade, ingenuidade, ou falta de esperança, considerar democrata quem tão manifestamente lhe desrespeita os princípios presta-lhe um dos piores serviços: não é de subserviência, ódio fraterno fácil ou disponibilidade para a aleivosia que se faz o contributo para o progresso e a igualdade políticas, cívicas e sociais, mas sim de sentido (auto)crítico, honestidade intelectual e recusa da embriaguez do poder.</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-45028214323302705082017-10-20T13:39:00.003+01:002017-10-20T13:40:16.559+01:00A falência da nossa consciência<div style="text-align: justify;"> O sistema político português, no seu desenho autofágico, na vergonha alheia que suscitam os seus agentes, no grau primário de literacia que promove e em que se conforta, constitui uma das mais deprimentes ilustrações da degenerescência da espécie. Abordá-lo sequer é, já, um acto que conspurca e polui. E nós, a audiência do burlesco, não lhe somos melhores: o que nos diverte e indigna sublinha a nossa cumplicidade com a circunstância, que talvez com mais mérito deva ser considerada ontologia.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Da parte de quem elege, uma disponibilidade nula para criticar ideias próprias e ou as das formações ideológicas a quem seguem de forma bovina e clerical. Em igual sentido, não apenas um desconhecimento absoluto dos fundamentos de ideias novas, mas uma verdadeira aversão a descobrir a própria existência delas, possível fusão do conformismo do conhecido com a interiorização de uma censura ao diferente. Adere-se, vota-se, defende-se com a mesma irracionalidade com a qual se celebra um clube desportivo ou uma bebida alcoólica. Andamos, já não com a cabeça entre as orelhas, mas com uma surdez selectiva voluntária que as tornou decorativas.</div> <br /> <div style="text-align: justify;"> Da parte de quem representa, sobressai a endogamia consanguínea auto-laudatória de grupelhos de crianças-adulto, alimentadas a ignorância histórica e desonestidade intelectual, às quais não auxilia qualquer réstea de potencial cognitivo senão para jogos internos mediaticamente amplificados de fratricídio, espécie de jogo da glória nivelado pelo mais visceral e primitivo, mas com a gravata adequada à respectiva predestinação ‘profissional’. Não é discernível nesses grupelhos qualquer renovação de ideias, substituído que foi há muito o debate da substância pela ilusão do domínio do processo discursivo: gritando mais alto ou colocando melhor a voz, ensaiando os gestos certos com que simultaneamente se risca o ar e o carácter, sobra sofismo onde definha a filosofia, perfeitamente em linha com um tempo onde interessa mais saber fazer que questionar e justificar o conteúdo feito.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> À ascendência desta prototipia de pessoas menores corresponde o nojo e afastamento progressivo de anteriores quadros e da experiência moral que o seu contributo antes garantia. Não surpreende, esse afastamento: não é tanto a sua experiência a desaparecer, mas sobretudo a capacidade de ponderação do ridículo e dos efeitos da sua exposição – quem nunca teve outro palco que o da juventude partidária dificilmente poderia ter uma censura que nunca verdadeiramente conheceu, ou a dívida moral para com as pessoas perante as quais se responde, a quem se reduz ao abstracto tecnocrático de “os portugueses isto e aquilo”.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Quem, no passado e no presente, pudesse aspirar a encontrar em espaços de reflexão comunicacional algum sentido crítico, algum pejo na valorização dos eventos e da sua relevância individual e colectiva, encontra hoje no seu lugar empresas ideologicamente comprometidas pela conveniência do retrato da sua produção, reduzida a termos de uma suposta neutralidade técnica (os “conteúdos”) e à maleabilidade de carácter das respectivas direcções redactoriais. Estamos já muito para além da suspeita de que constituem instrumentos de poder ou de produção de enquadramentos políticos convenientes: o campeonato que hoje disputam, privado de critério cívico, é o do equilíbrio entre a abjecção e o crime.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Que sobra? A lira de Nero, este nojo divertido das chamas com acompanhamento musical, o critério que dança, deixando no ar a dúvida sobre de que lado do ecran se simula mais a realidade. E não é sem tristeza e amargura que tal diagnóstico se oferece: move-as a certeza de que nada de verdadeiramente bom surge sequer no calendário, quanto mais no horizonte. Rimos, injuriamos os carros alegóricos, apontamos a inadequação das proporções das figuras sobre eles instaladas, esquecendo nesse gesto serem o reflexo do tudo o que permitimos que elas sublinhem a respeito da falência da nossa consciência.</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-44129682169924497962017-04-07T15:34:00.000+01:002017-04-07T15:36:11.263+01:00O passado é hoje<div style="text-align: justify;"> 1) Num lugar não escolhido ao acaso no mundo foi hoje conduzida mais uma <i>operação militar</i>, eufemismo banalizado no nosso léxico, indicador do quão militarizado e beligerante se tornou. Podemos optar por outro eufemismo com a mesma origem e propósito, o de <i>ataque</i>, que o ponto demonstrado se mantém.<br /><br />2) Foi desenvolvida em território soberano de outro país, com um líder eleito - podemos discutir noutro plano a legitimidade do resultado dessa eleição - e o apoio de uma significativa parte da respectiva população - não é este o lugar para medir a origem ou dimensão desse apoio. Registe-se, para efeitos de reflexão, tratar-se do território soberano de um país com uma liderança política em funções.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> 3) Neste território decorre há já vários anos uma guerra civil, um conflito de natureza portanto interna. No entanto, é relativamente visível - quer por declarações públicas, quer por gestos, quer pela origem geográfica das armas utilizadas, que as partes envolvidas nesta guerra beneficiam, como acontece praticamente desde que a espécie desceu das árvores (e talvez até antes disso), de apoio externo, resultado de alianças e de interesses diversos também ele jogados nesse território soberano e obedecendo a decisões tomadas pela sua legítima liderança política. Assumamos, então, que decorre neste território um jogo de dimensões que o ultrapassam, ou seja, apesar de sujeito a uma soberania territorial, é também submetido à consequência de decisões que são tomadas <i>àcerca dele </i>por agentes que, em grande medida, a ele <i>não pertencem</i>.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> 4) O actual modo de reflexão e acção política nacional reserva-se o direito, por razões que já nem discutimos entre nós, de não apenas opinar mas inclusivamente de intervir em territórios soberanos para os quais não somos convidados, quer a exercer palavra, quer a exercer gesto. Banalizámos esta forma de auto- e de hetero-representação como relações de vizinhança que se permitem conhecer, opinar e agir sobre vidas alheias porque... nos consideramos em posição de faze-lo <i>em vez </i>de quem objectivamente reside nesse território. Coincidentemente, as nossas práticas discursivas relativas ao processo inverso, ou seja, de opinião ou intervenção no <i>nosso </i>território denotam considerável aversão e condenação a uma ilegitimidade absolutas.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> 5) Desta vez, e <i>outra vez</i>, é um país ocidental que <i>decidir </i>unilateralmente, perante <i>indícios </i>recolhidos pelo próprio sob formas pelas quais o próprio é responsável, a <i>intervir militarmente</i> - ou seja, a violar a integridade territorial de um estado soberano com um governo eleito em funções - como <i>resposta </i>a um outro acto cometido no âmbito de uma guerra civil. Sem mandato internacional - e mesmo com ele a reflexão continuaria a fazer sentido - para essa violação, sem autorização expressa do governo em funções, um país decide violar o território de outro, usando para esse fim armamento lançado à distância.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> 6) O mesmo país responsável pela escolha de processos de recolha de prova, pelo fornecimento desses elementos, e pela decisão unilateral de violar a integridade territorial de um país com um governo em funções chama-se Estados Unidos da América. É o mesmo país que a 19 de Março de 2003, mediante uma reserva de escolha de processos de recolha de <i>prova </i>mais tarde infirmada e uma decisão unilateral sem mandato internacional, violou a integridade territorial de um país com um governo em funções chamado Iraque.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> 7) Desde essa violação da integridade territorial de um país com um governo em funções chamado Iraque morreram dezenas de milhar de pessoas, a maior parte dos quais civis, em números que podem ser consultados <a href="https://www.iraqbodycount.org/">aqui</a>, <a href="http://watson.brown.edu/costsofwar/costs/human/civilians/iraqi">aqui</a>, <a href="https://antiwar.com/casualties/">aqui</a>, e <a href="http://www.huffingtonpost.com/2013/10/15/iraq-death-toll_n_4102855.html">aqui</a>. Repito, <i>prova </i>mais tarde infirmada.</div> <div style="text-align: justify;"> &nbsp;</div> <div style="text-align: justify;"> 8) Hoje, 7 de Abril de 2017, o país anteriormente responsável pela decisão unilateral de violar a integridade territorial de um país com um governo em funções baseado em <i>prova </i>posteriormente infirmada violou a integridade territorial de outro país com um governo em funções, baseado em <i>prova </i>por cuja recolha é o único responsável, sem qualquer mandato internacional para esse efeito.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> 9) Diversos outros países, a nenhum dos quais se conhece qualquer legitimidade para decidir unilateralmente da violação da integridade territorial de um país com um governo em funções, apoiaram a decisão.</div> <div style="text-align: justify;"> &nbsp;</div> <div style="text-align: justify;"> 10) Nenhum destes países, historicamente, considerou justificável a violação da sua integridade territorial enquanto país com um governo em funções.</div> <div style="text-align: justify;"> &nbsp;</div> <div style="text-align: justify;"> 11) A Carta das Nações Unidas, em vigor na ordem internacional desde 24 de Outubro de 1945, afirma pretender preservar gerações da guerra, a igualdade das nações, o respeito pelo direito internacional, obrigando-se a viver em paz e a garantir que a força armada não será usada, a não ser no interesse comum.</div> <div style="text-align: justify;"> &nbsp;</div> <div style="text-align: justify;"> 12) Aprendemos nada? Assistimos em silêncio?</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-81038871227076868242017-03-13T20:09:00.003+00:002017-03-13T20:09:56.578+00:00Maria e Pedro, ou a Assunção da estratégia da invisibilidade<div style="text-align: justify;"> Há dois aspectos interessantes na questão levantada por Assunção Cristas quanto ao seu desconhecimento/envolvimento de/em questões relativas ao sector financeiro enquanto ex-Ministra:<br /><br />1) o primeiro, mais directo mas também mais superficial, revela em todo o seu nojo a já conhecida hipocrisia do CDS e das suas lideranças face ao "país" e ao exercicio de funções de representação politica - ficando por saber se por "país" se entende apenas o conjunto de eleitoras/es do partido, ou aquele grupo ainda mais restrito, o das pessoas directamente beneficiadas pela acção do partido;<br /><br />2) o segundo, mais oculto, é a forma como estas práticas - já conhecidas de quem acompanhava a política, mas que agora tanto "surpreende" e "choca" quem tem votado com os pés nas últimas décadas - traduzem uma estratégia muito clara por parte do PSD e dos diversos sectores a ele afectos ou por ele controlados: a de deixar crucificar publicamente o anterior parceiro, o tal com o qual tantas afinidades existiam, numa tentativa de passar incólume por entre os pingos daquilo que entretanto se atirou à ventoínha. Em diversas situações, a inimputabilidade das principais figuras do governo anterior, Maria Luis Albuquerque e Pedro Passos Coelho, continua a ser não apenas sugerida mas mediaticamente alimentada, como se nada tivesse sido feito com a sua anuência.<br /><br />É importante não deixar passar o evidente por tudo o que existe para conhecer: regra geral, para que uma coisa que enoja seja divulgada outra muito mais suja fica por assumir.</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-71542668083081548992017-02-13T18:41:00.000+00:002017-02-13T18:41:25.781+00:00de qualquer coisa que nem sei bem qualificar<div data-contents="true" style="text-align: justify;"> <div class="" data-block="true" data-editor="h14i" data-offset-key="85n14-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="85n14-0-0"> <span data-offset-key="85n14-0-0"><span data-text="true">Li há pouco que existe agora um novo detergente ideológico chamado Iniciativa Liberal, baseado na ideia de que “a oferta política em Portugal ainda não está preenchida ao centro” e com o défice cognitivo (ou de carácter) suficiente para afirmar que “o facto de existirem tantos votos brancos e nulos, demonstra que os eleitores não se reveem na atual oferta política”.</span></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="h14i" data-offset-key="42rfl-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="42rfl-0-0"> <span data-offset-key="42rfl-0-0"><br data-text="true" /></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="h14i" data-offset-key="4dnfe-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4dnfe-0-0"> <span data-offset-key="4dnfe-0-0"><span data-text="true">Em vez de um presidente, este verdadeiro 'cogumelo do tempo', esta belíssima pulseira 'power balance' para o discernimento opta por ter um CEO, o que está em linha com o facto de ser definido por um dos seus 'líderes' como uma “startup política", e de apresentar 'líderes' próximos ou mesmo anteriores quadros desse exemplar espécie de substância ideológica e competência política chamado PSD. </span></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="h14i" data-offset-key="88poc-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="88poc-0-0"> <span data-offset-key="88poc-0-0"><br data-text="true" /></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="h14i" data-offset-key="cr89j-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="cr89j-0-0"> <span data-offset-key="cr89j-0-0"><span data-text="true">E sim, estas pessoas estão a dizer estas coisas sem se rirem: parece impossível em 2017, depois de quatro anos de neoliberalismo socialmente genocida, tecnicamente incapaz e moralmente amblíope, mas é verdade.</span></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="h14i" data-offset-key="3qrk9-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3qrk9-0-0"> <span data-offset-key="3qrk9-0-0"><br data-text="true" /></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="h14i" data-offset-key="1bmjn-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="1bmjn-0-0"> <span data-offset-key="1bmjn-0-0"><span data-text="true">Assim sendo, rendo-me à evidência de que este país, assim como algumas pessoas e universidades nele, estão desesperadamente necessitadas de uma intervenção. Ou de um clister. É uma delas. Talvez até ambas. Encontramos sempre forma de, a importar trigo ou joio, escolher convictamente o joio e colocar-lhe uma bela gravata.</span></span></div> </div> </div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-12867665577325334932017-02-04T19:34:00.000+00:002017-02-04T19:40:12.505+00:00Da parolice empreendedora<div data-contents="true" style="text-align: justify;"> <div class="" data-block="true" data-editor="1b7lc" data-offset-key="3lcvb-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3lcvb-0-0"> <span data-offset-key="3lcvb-0-0"><span data-text="true">A nova religião para os incautos chama-se <i>empreendedorismo</i>. <i>Empreender</i>, na prática um sinónimo pseudo-sofisticado para <i>fazer</i>, é um termo vendido com sucesso a quem dificilmente conseguia encontrar as próprias nádegas sem um mapa mas sentiu pesar-lhe sobre os ombros a ética (que outros neles colocaram) de <i>fazer</i> algo, sem o qual seria inútil ao mundo.</span></span></div> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3lcvb-0-0"> <span data-offset-key="3lcvb-0-0"><span data-text="true">&nbsp;</span></span></div> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3lcvb-0-0"> <span data-offset-key="3lcvb-0-0"><span data-text="true">Obviamente que neste contexto <i>fazer</i> significa ser empresário, pois viver no sonho húmido do mercantilismo recauchutado não poderia impor uma religião a terceiros que não a sua. Portanto, ser <i>empreendedor </i>é ser bestial, é ser igual a quem é empresário, e como tal quem não quer ser empresário não é da malta, pim.</span></span></div> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3lcvb-0-0"> <span data-offset-key="3lcvb-0-0"><span data-text="true">&nbsp;</span></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="1b7lc" data-offset-key="5j1ck-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5j1ck-0-0"> <span data-offset-key="5j1ck-0-0"><span data-text="true">Entendamo-nos: ser <i>empreendedor</i> nos dias de hoje, para além de significar ter engolido até à espinha uma visão normativa do que temos de ser todos e em força, é sobretudo aceitar que o desígnio humano se reduz a três coisas: <i>aparecer</i>, de preferencia usando o que os catálogos de moda impõem como norma; ser bem sucedido a <i>pedinchar</i> dinheiro a quem o tem; <i>impingir</i> a quem já é servido por algo outro serviço que faz essencialmente a mesma coisa mas com um aspecto mais cool.</span></span></div> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5j1ck-0-0"> <span data-offset-key="5j1ck-0-0"><span data-text="true">&nbsp;</span></span></div> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5j1ck-0-0"> <span data-offset-key="5j1ck-0-0"><span data-text="true">O ultimo profeta da coisa é, aliás, alguem cujo delirio e demonstração de bem sucedido condicionamento pavloviano o leva a considerar que seria que o país se tornasse uma "<i>start up nation</i>", depois de propor </span></span><span data-offset-key="5j1ck-0-0"><span data-text="true">a inovação "considerável" de um serviço de reserva de quartos à distância para estudantes universitários - coisa que, creio, existe desde que existem meios de comunicação à distância.</span></span><div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5j1ck-0-0"> <span data-offset-key="5j1ck-0-0"><span data-text="true"><br /></span></span></div> </div> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5ik46-0-0"> <span data-offset-key="5j1ck-0-0"><span data-text="true">Não vou sequer pronunciar-me sobre a parolice que constitui </span></span><span data-offset-key="5ik46-0-0"><span data-text="true"><span data-offset-key="5j1ck-0-0"><span data-text="true">dar nomes em inglês a coisas para as quais existem termos no léxico português</span></span>, à moda de migrantes de carácter duvidoso regressados a aldeias. Vou antes sublinhar o facto de vivermos um tempo de disparate cúmplice com a bazófia em voz alta, de apressada redução de toda a condição humana a uma natureza comercial e competitiva tornada evangelho dogmático.</span></span></div> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5ik46-0-0"> <span data-offset-key="5ik46-0-0"><span data-text="true">&nbsp;</span></span></div> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5ik46-0-0"> <span data-offset-key="5ik46-0-0"><span data-text="true">No que diz respeito a substâncias de perturbação da percepção cada pessoa tem o direito a injectar directamente no cortex aquilo que lhe coloca na córnea a cor mais agradável à sua necessidade de ilusões. Mas deixem-se de dogmas saloios academicamente validados por outras e outros recém-convertidos que julgam ter visto a luz que outras e outros ignoram, impondo-lha, como se todas as pessoas devessem doravante adorá-la resplandescente na verborreia pseudo-literada de quem a afirma.<br /><br />Empreendam-se daqui para fora, não regressem ou, a terem de faze-lo, voltem de carroça e promovam banha de cobra ou tónicos milagrosos: saberemos à mesma o que é por aquilo a que cheira, e sempre era mais honesto.</span></span></div> </div> </div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-43671542599142701982017-02-03T21:32:00.000+00:002017-02-04T19:39:21.171+00:00Do recuo<div data-contents="true" style="text-align: justify;"> <div class="" data-block="true" data-editor="elj2q" data-offset-key="bvbjp-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="bvbjp-0-0"> <span data-offset-key="bvbjp-0-0"><span data-text="true">O recuo do PS na questão da integração de todas as pessoas com contratos precários que, diariamente, garantem que as instituições do Estado não desabam é vergonhosamente significativa do recuo do partido para o seu passado.</span></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="elj2q" data-offset-key="dpvok-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="dpvok-0-0"> <span data-offset-key="dpvok-0-0"><br data-text="true" /></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="elj2q" data-offset-key="crqgv-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="crqgv-0-0"> <span data-offset-key="crqgv-0-0"><span data-text="true">As palavras de Vieira da Silva são, a esse título, sintomáticas: é preciso estudar o número mas o número avançado por outras organizações é exagerado. Portanto é preciso "estudar" um número que Vieira da Silva quer conhecer já conhecendo, talvez por não ainda um <i>facto</i> suficientemente <i>alternativo</i>.</span></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="elj2q" data-offset-key="ccaos-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ccaos-0-0"> <span data-offset-key="ccaos-0-0"><br data-text="true" /></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="elj2q" data-offset-key="45pqd-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="45pqd-0-0"> <span data-offset-key="45pqd-0-0"><span data-text="true">Entre a criação de uma comissão para fazer um levantamento (que já existe e é actualizado por diversas outras instituições), a designação dos seus membros (com os critérios de apolitiquite que tanto "honram" o passado do partido), do respectivo procedimento e prazos (e adequadas zonas cinzentas para habilidade jurídica em caso de absoluta necessidade), o PS ganha tempo para não cumprir aquilo a que politicamente se comprometeu com os signatários do actual acordo de governo.&nbsp;</span></span></div> </div> <div class="" data-block="true" data-editor="elj2q" data-offset-key="9f672-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="9f672-0-0"> <span data-offset-key="9f672-0-0"><span data-text="true">Efeito possível de sondagens favoráveis, o PS (e a organização sindical da qual se encontra próximo) parece começar a pensar que não precisa de três rodas para a continuação da viagem, convicto de que poderá passar ao monociclo sem problemas. É erro e uma cedência que poderão custar caro ao país e à recuperação da dignidade e do rendimento que se impõe em 2017.&nbsp;</span></span><br /> <br /> <div class="" data-block="true" data-editor="elj2q" data-offset-key="26iqh-0-0"> <div class="_1mf _1mj" data-offset-key="26iqh-0-0"> <span data-offset-key="26iqh-0-0"><span data-text="true">Simultaneamente, é difícil conceber como mantém o cargo um 'líder sindical' que se afirma pela 'moderação' na actualização real do salário mínimo e na integração de pessoas cronicamente privadas dos direitos legítimos que devem assistir quem suporta as funções do Estado sem estar integrada nele. Talvez a UGT se tenha esquecido do significado de <i>sindicalismo</i>, ou tenha entretanto encontrado uma definição <i>alternativa</i> para o termo.</span></span><br /> <br /> <span data-offset-key="26iqh-0-0"><span data-text="true">(artigo publicado no Jornal Tornado) </span></span></div> </div> </div> </div> </div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30336008.post-38232240840871065912017-01-17T02:15:00.005+00:002017-01-17T02:15:58.167+00:00O Jornalismo? Está bestial. Excepto o facto de não ser Jornalismo.<div style="text-align: justify;"> Não arrefeceu ainda o metal mas a gravura é discernível. Aliás, de forma previsivelmente deprimente, já era discernível antes mesmo de ser iniciada. Dez directores e uma directora - nota para o diagnóstico habitual que esta constatação permite - aceitaram pronunciar-se sobre a afirmação do Jornalismo, e fizeram-no da forma esperada: reconhecendo dificuldades heteroimpostas e distribuindo responsabilidades como que dispara <i>confetti </i>para o ar.<br /><br />Em seu entendimento, de forma mais explícita e bazofienta aqui, de forma mais envergonhada mas igualmente cúmplice ali, a culpa é de toda a gente menos de quem dirige os media, da evolução tecnológica, habitual destinatária silenciosa do determinismo deresponsabilizante de quem não sabe mais ou cujo carácter não permite melhor, até à insubmissão (a um tempo) e à burrice (a outro) das suas audiências. Quem dirige um meio de comunicação é sempre a vítima injustiçada do drama grego, simultaneamente impotente perante o imprevisto e omnipotente perante o desafio e a medalha; tudo o que não foi tragédia imprevista foi mérito próprio, e o resto é imponderável, é injustiça, é incompreensão, é ilegitimidade alheia.<br /><br />Perante a crítica ao crescente hiato de estatuto, de rendimento e de visão por parte da classe jornalística, sobra a surpresa, a incompreensão, a vitimização e a garantia de que 2530 das 24 horas do dia são passadas a tratar de questões editoriais, e muito pouco a tratar daquele nojo solidariamente partilhado com a classe: o mundo da finança e do marketing. Quem, na plateia, se perguntasse se quem dirige ainda sabe o que significam "questões editoriais" levou para casa, não a resposta, mas a pergunta; isto de um congresso sobre jornalismo é coisa onde apenas o CM pode ser ridicularizado pois todos os restantes media e respectivas redacções são ávidos praticantes de yoga deontológico, e onde a falta de reflexão sobre a consequência do trabalho da classe perde em brilho para o êxtase colectivo das histórias de vida e para a auto-celebração anti-heterocensória a que se reserva o direito - o mesmo de que priva diariamente todas e todos as/os que têm a infelicidade de ver-se escrutinados pela sua pena.<br /><br />Interessa pouco que queiram confundir-se com agentes do meio político, que tenham entronizado a si em espaços de comentário especializado em tudo, que o facto de a realidade precisar de contextualização lhes perturbe a excelência. Portanto, a única afirmação passível de ser feita a propósito do Jornalismo é a de que está bestial, que o que é bestial no Jornalismo é mérito de quem o dirige, é qualidade de quem o escreve mesmo que cada vez mais não saiba sequer escrever, e que o que é azelhice está sempre para lá do que é possível condicionar-se, é um desafio, e "estamos todos juntos, camaradas, pá". <br /><br />A culpa, habitual passageira única da <i>walk of shame</i> jornalística, continuará a ficar à porta, juntamente com a pressão para a última hora não verificada, de braço dado com o estágio não remunerado em substituição contínua e o último "conteúdo" produzido pela "redacção", e piscando o olho aos panama papers (quem?) e ao facto de o número de títulos escritos de forma foucaulteanamente habilidosa se ter tornado tão frequente como ridículo. Acompanhar o trabalho jornalístico em Portugal neste momento não é muito diferente de ver (a repetição de) um acidente: toda a gente sabe como termina excepto quem segue na viatura, confiante de que a carteira profissional e o título na porta são o único GPS necessário. Mas podemos todos regozijar-nos, bater no peito, e celebrar a geração jovem que cobriu o evento, que a próxima transfusão está aí, e o monstro precisa de carne fresca.</div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> <br /></div> <div style="text-align: justify;"> Publicado no Jornal Tornado a 16 de Janeiro de 2017.</div> pedro pereira netohttp://www.blogger.com/profile/08817455025226309828noreply@blogger.com0